LUSO-ESTUDOS #3

Fórum Luso Estudos / Edição 2021

No contexto dos fenómenos migratórios muitos exemplos testemunham de um movimento de despertar da memória. Podemos evocar o trabalho persistente e conjunto de historiadores, sociólogos, cientistas, políticos e ativistas associativos. No entanto, o que se entende exatamente por memória da emigração e memória dos emigrantes?

Parece-nos que o espaço público tem privilegiado aspetos mais factuais. Por vezes é descorado o que se relaciona com a esfera do privado, como as práticas e os processos de transmissão e reapropriação intergeracional. A narração da experiência da migração permite-nos questionar a identidade dos lusodescendentes. Em situação de deslocação geográfica, a memória da família é inseparável da memória da emigração. A realidade social da primeira é fragmentada, recomposta e moldada pela experiência de partida, chegada e instalação. A elaboração e a narração da história familiar de emigração são fenómenos complexos e difíceis. Como a discussão sobre família e migração é organizada nas trocas intergeracionais? Ou seja, como é expressa a memória dos emigrantes? A transmissão da memória também pode favorecer outros vetores que não o da oralidade e ocorrer em gestos, costumes, práticas e tradições. As férias na aldeia são outro fator de aprendizagem indireta, apropriação da memória familiar e confronto com os fragmentos de histórias ouvidas em casa. Dessa forma, não há uma memória feliz ou infeliz da emigração, mas sim diferentes práticas de memória, mecanismos de transmissão heterogéneos na origem de diversos saberes, por vezes dentro da mesma família.

A questão da memória em contextos migratórios revela-nos as tensões entre a construção de uma memória familiar, ainda voltada para o lugar de origem, e a afirmação de uma memória identitária coletiva. Este aspeto levanta a questão dos lugares simbólicos e sociais da dupla filiação, levando em consideração a alteridade e a dupla cultura das famílias. A dupla cultura que os lusodescendentes é o resultado de práticas e representações reinterpretadas e reconstruídas a partir do que sabem, recebem ou desejam manter dos mais velhos. Embora seja inegável que os lusodescendentes estejam incluídos numa história particular (a da migração, a dos seus familiares), estes últimos adotem posições particularmente heterogéneas, parecendo assim viver as suas histórias de diversas formas, pois os processos migratórios são, por excelência, fenómenos complexos, cuja correta compreensão requer o aporte de diferentes áreas do conhecimento.

Fórum Luso Estudos / Edição 2021

No âmbito da parceria entre a Comissão de Migrações da Sociedade de Geografia de Lisboa e o Observatório dos Lusodescendentes realiza-se o Fórum Luso-Estudos / Edição 2021. Neste sentido, desejamos promover, para esta 3ª edição, um encontro aberto a todos os interessados para a apresentação e discussão dos principais temas, resultados e questões presentes em torno da temática da memória. O encontro deste ano pretende congregar investigadores, docentes, estudantes, gestores, políticos, representantes associativos, decisores de entidades públicas e privadas, artistas e todos os interessados na área da memória e da herança.

Veremos de que forma a questão da memória se aplica aos descendentes de emigrantes portugueses que cresceram nos mais diversos países pelo mundo. São implantadas estratégias para garantir que retenham a memória dos seus familiares? Existe uma maneira de transmitir o passado dos seus pais e antepassados? De forma mais ampla, como é que os lusodescendentes constroem a “sua” história e quais são os atores que participam dessa (re)apropriação de uma memória das “origens”?

Fazer essas perguntas envolve, em particular, identificar os locais onde esses processos ocorrem. No entanto, embora a família seja vista, muitas vezes, como o lugar central para essas transmissões, outros órgãos também desempenham um papel importante. Desta forma, serão discutidas as políticas de preservação da memória da emigração portuguesa junto dos lusodescendentes tais como as redes museológicas, associativas, políticas, culturais e artísticas.

O Fórum Luso-Estudos / Edição 2021 terá lugar na Sociedade de Geografia de Lisboa, no dia 20 de setembro de 2021, e privilegiará os seguintes eixos temáticos:

1. Percursos (auto)biográficos

2. Cronologia e Geografia

3. Testemunho e transmissão da memória nas instituições: Associações, Bibliotecas, Museus…

4. Testemunho e transmissão da memória nas artes: Literatura, Cinema, Pintura, Arquitetura, Fotografia, Música… 

5. Cidadania portuguesa e ligação sefardita.

6. Memórias da 1ª Guerra Mundial

Modalidade de participação:

– Proposta de apresentação oral sob a forma de resumo de 300 a 500 palavras, em word, incluindo título, nome e contacto do(s) autor(es), afiliação.

– Breve nota biobibliográfica do(s) autor(es)

– Eixo temático em que se inscreve

Data limite para envio de propostas:

15 de julho de 2021

Formulário para envio de propostas e inscrição (gratuita e obrigatória):

https://forms.gle/J5ekevqkdxcjqWkD9